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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Caridade

Por Mestre Obashanan

            O termo “caridade” vem do latim caritas (amor), de carus (caro, de alto valor, digno de apreço, de amor).
            Identifica-se hoje, frequentemente, a caridade com um afeto piegas que se traduz por gestos de assistência paternalista. O termo evoca, imediatamente, a ideia de esmola, tanto que a expressão “viver de caridade pública” significa viver de esmolas, no entanto, caridade é algo bem mais profundo.
            A Umbanda em seus primórdios cunhou a frase “Fé, Esperança e Caridade”. Fico ainda, com o que escreveu mestre Yapacani: “Pratique a caridade nem que seja por vaidade”.
            No ponto de um caboclo aprendemos: “Pedrinha do alto/Pedrinha de ouro/Pedrinha de Loango é…/3 Pedras vem lá do céu: Caridade, Esperança e Fé”, indica a benção que vem do alto na forma de justiça e igualdade para todos. Em outro ponto aprendemos: “Quando ele vem lá do Oriente/Vem com ordens de Oxalá/Sua missão é muito grande/É espalhar a CARIDADE/E seus filhos proteger”. Já ouvi muito dirigente umbandista contraditório dizer ser a caridade proibitiva na Umbanda. Nesse caso, o que devemos fazer? Mudamos o ponto ou entendermos o conceito?
            Etimologicamente, caridade sugere dom, preciosidade, intimidade; De fato, caridade é oblação, virtude, atitude de comunhão mais ainda é vida. Por isso mesmo comporta exigências e é objeto de preceito. Sua tradução como amor se identifica se este está despido de ambigüidades. Supera, em objeto e motivação, a filantropia. Relaciona-se proximamente à justiça enquanto estabelece ordem no que é coletivo impedindo que estas diferenças se cristalizem e se degenerem em CONFUSÃO (!).
            Coincide em grande parte com a Graça. Caridade é o amor desinteressado ao próximo e é justamente aí que falhamos pois o próximo nem sempre é interessante. Este fio tenebroso de pensamento é o que nos aproxima do egoísmo quando escolhemos a quem devemos praticar caridade. Caridade é, uma dileção sem predileção e por isso supera e não é filantropia, que é o amor à humanidade, e sendo esta uma abstração, é mais comum a quem não quer ter trabalho para praticá-la como deve ser praticada.
            Assim, como o próximo pode ser qualquer um, a caridade, é, em princípio, universal. É o que a distingue da amizade, que é inseparável da escolha ou da preferência, pois os amigos nós escolhemos, já os próximos não. Amar seus amigos não é amar qualquer um, nem amá-los de qualquer maneira: é simplesmente preferi-los numa escolha que, quando mal feita, pode levar à injustiça e à hipocrisia.
            A caridade tem por objeto apenas os indivíduos, em sua singularidade, em sua concretude, em sua fragilidade essencial. É amar qualquer um, mas na medida em que é qualquer um; é regozijar-se com a existencia do outro, seja o que ele for, mas tal como ele é.
            O que nos separa dele, esse outro tão distante, é o EU, que só sabe AMAR A SI (egoísmo) ou PARA SI (concupiscência). Já diziam os antigos que “Caridade bem ordenada para nós é começada”, mas costuma-se tomar o dito ao inverso de seu sentido.

E, finalmente, a caridade só começa, existe e tem sentido real e efetivo, quando cessamos de nos preferir.

Fonte: http://estrelaverde.org/web/2016/05/24/caridade/
Tempo da Estrela Verde

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